GOVERNO DO
ESTADO DA PARAÍBA
SECRETARIA DE
EDUCAÇÃO
ESCOLA ESTADUAL
ENSINO FUNDAMENTAL CORAÇÃO DIVINO
RELATÓRIO DO PROJETO
TEXTO E VARIEDADES
EXPLORANDO OS
GÊNEROS TEXTUAIS
JOÃO PESSOA –
2012
GOVERNO DO
ESTADO DA PARAÍBA
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
ESCOLA ESTADUAL
ENSINO FUNDAMENTAL CORAÇÃO DIVINO
O
Relatório do Projeto Texto Variedades foi construído a partir das práticas
realizadas em sala de aula e o relato dos desafios e superações que ocorreram
ao longo do projeto. Este é o relato da Jaquicilene Ferreira da Silva Alves,
professora da turma do 4º ano - manhã, da Escola Estadual de Ensino Fundamental
Coração Divino.
JOÃO PESSOA -
2012
RELATÓRIO DO
PROJETO TEXTO E VARIEDADES
Leitura, escrita
e novos horizontes
A
necessidade em desenvolver algo que contribuísse em desenvolver a leitura em
sala de aula foi minha primeira inquietação e com toda certeza iniciar esse
projeto foi o maior de todos os desafios. Ao caracterizar minha turma vejo uma
heterogeneidade maior que o normal, estudantes que chegaram sem saber ler e
ainda fora de faixa (o que tem se caracterizado como fenômeno normal nos
últimos anos) misturados com estudantes que conseguem ler e compreender e ainda
os que conseguem ler, mas não compreendem o que foi lido.
Nos
comentários nas reuniões dos professores, uma das professoras apresentou uma
proposta desenvolvida em uma escola que tratava dos gêneros textuais, isso me
chamou muita atenção, mas era um projeto grandioso e sinceramente tive medo de
começar e não conseguir terminar, mas, afinal nunca ouvi falar de bons
resultados sem um grande e longo trabalho por trás. “Arregacei as mangas” e fui
à luta.
Esse
projeto de intervenção no processo de construção de um universo letrado no
cotidiano desses educandos também foi planejado como um aspecto cultural. É
essencial que o público alvo desse projeto fosse contemplado culturalmente,
pela reprodução de sua cultura e pelas novas descobertas que a leitura pudesse acrescentar
aos seus aspectos culturais. Essa afirmação é contemplada com as palavras de
Cagliari (2010, p.151): Leitura e cultura
sofrem um impasse inicial. A leitura leva à aquisição da cultura, mas é a
cultura que explica muito do que se lê, não apenas o significado literal de
cada palavra de um texto.
Por respeitar a cultura e a
cultura dos meus educandos, fui muito cautelosa com a escolha de cada gênero
textual e cada material a ser apresentado, agredi-los/as culturalmente não era
o principal objetivo. O maior desafio era oportunizar o conhecimento diversificado
respeitando os limites da cada um/a.
Como
uma educadora pesquisadora fiz o máximo para relacionar os gêneros propostos
com o currículo escolar. A transversalidade e multidisciplinaridade, foram
traços preciosos no desenvolvimento do projeto. Sem esquecer de
inter-relacionar as competências/capacidades e os conteúdos previstos pela
Secretaria de Educação.
Como percebo que
poesia é um gênero muito agradável, comecei por ela. Eles aceitavam bem a minha
leitura, mas eu sentia falta do protagonismo deles e delas, foram muitas
poesias, muitos momentos de leitura silenciosa, leitura individual, leitura em
grupo, leitura combinada por grupos, e diversos outros tipos de leitura, além
de diversos exercícios escritos que acompanhavam esses textos.
Trabalhei
com poemas pequenos que se aproximavam da realidade deles, em pedacinhos de
papel eu cortava e colava em cada caderno e explorava o máximo possível.
Recitava e ainda recito diariamente, percebo que o estudante só vai gostar de
ler se o professor demostrar pelos seus atos que ler é prazeroso. Foram muitos
poemas, rodas de leitura, momentos da cestinha da leitura em sala de aula. No
inicio sinceramente pensei que não fosse dar certo. Procurava explorar os
poemas, eles foram aos poucos aprendendo a reconhecer os poemas e a identificar
sua estrutura.
Com
os poemas exercitei a integração dos conhecimentos, relacionei o máximo o que
seria explorado no poema com a matriz curricular do 4º ano e com o Fluxo
orientado pela Secretaria de Educação através do Programa Primeiros Saberes da
Infância. Meus limites estavam sempre relacionados com as dificuldades na
leitura dos estudantes e na inaptidão acadêmica de alguns deles. Houve uma
certa resistência pela dificuldade na leitura dos estudantes, o que não foi
motivo para acomodação. Com os poemas fomos encontrando paulatinamente o prazer
no exercício da leitura de pequenos textos.
O segundo gênero
trabalhado em sala de aula foi a música, um caminho maravilhoso, primeiro
porque eu gosto muito de música e depois porque os estudantes também se
identificam muito.
Aqui no entorno
da nossa comunidade o tráfico de drogas é uma realidade e, infelizmente parte
dos nossos educandos cultuam essa prática. Não no sentido de estar envolvido,
mas por admirar esses comportamentos e por terem crescido próximo a tal
realidade. Portanto, músicas que reverenciam facções criminosas como: “Alkaida”
e “Estados Unidos” é muito natural. Nossas crianças e adolescentes escutam e
cantam essas músicas naturalmente, sem ao menos prestar atenção ao conteúdo.
De posse da
realidade, eu não optei por ouvir as músicas deles, sei que não teria a
maturidade para explorar essas músicas e converter a opinião. Eu simplesmente apresentei
outras alternativas de músicas trazendo músicas de todos os tempos.
Explorei a
música de duas formas diferentes. Na primeira forma, apresentava primeiro uma
mídia com a música ou até mesmo o clipe da mesma e posteriormente a letra. Na
segunda forma, trazia a música em forma de texto e depois eles percebiam o ritmo e em que momento a música era
contextualizada historicamente. Em ambas formas explorava a ortografia e a
gramática, pois como durante o processo, as músicas eram ouvidas diariamente na
sala de aula eles já decoravam a letra, foi um dos momentos em que a escrita
foi melhor explorada.
Comecei com rock
Brasil, nas músicas animadas do grupo musical Skank, passamos também por:
Leandro e Leonardo, Roni Von, Luíz Gonzaga, NX Zero, Tom Oliveira, Flávio José
e Gabriel O Pensador. Foi um pouco de tudo. Procurei atender as curiosidades
deles para que se sentissem contemplados durante todo o processo. Com as
músicas percebemos que a leitura está em tudo e que até nos momentos de
descontração do nosso cotidiano o raciocínio humano e a criatividade se faz
presente através de ritmo, dança e muita leitura.
O próximo módulo
do referido projeto foi um especial para receitas. Como incentivo perguntei o
que os estudantes gostavam de comer e montamos uma lista de receitas, depois
pedi para os educandos trazerem uma receita de casa, fizemos uma troca de
receitas. Nesse gênero trabalhei de uma forma diferente, não escolhi as mídias,
falei que traria as mídias contendo vídeos do preparo das receitas que eles
escolhessem.
Foram muitos
vídeos com receitas variadas, a ocasião foi oportuna para o trabalho com as
comidas típicas regionais e a divisão política do Brasil, além de muitos
conteúdos de matemática, como por exemplo, a conversão de medidas. Analisamos o
cardápio escolar e o valor nutricional de alguns alimentos.
Depois de
conhecer várias receitas, planejei uma aula diferente: o preparo de uma receita
em sala de aula, foi uma verdadeira festa. Quando apresentei a ideia pedi aos
estudantes que selecionassem uma das receitas das quais tínhamos assistido o
vídeo, para que puséssemos assistir novamente e fazer o preparo em sala de
aula, e estabeleci alguns critérios como, a praticidade, o fácil acesso aos
ingredientes (considerando que todos iam cooperar trazendo os ingredientes de
casa), os utensílios necessários para o preparo e também a curiosidade da
degustação.
A receita que
atendeu a todos os critérios foi uma Torta de Carne Moída. Incrível como todos
participaram de alguma forma, na contribuição, trazendo ingredientes e no
momento de preparar na sala de aula. Ao final do lanche diferenciado, alguns
gostaram mais, outros menos, mas todos avaliaram positivamente nossa aula prática.
Com as receitas também aprendemos a planejar, prever o que poderíamos precisar,
uma atividade praticamente científica, tanto pela matemática, mas também pelos
estágios de transformação dos alimentos para a nossa saúde e para a saúde do
meio em que vivemos. Pudemos também conhecer vários lugares do Brasil pela
gastronomia e saber como esses sabores compõem cada Estado brasileiro.
Considerando que
a partir desse momento os estudantes já haviam sido conquistados, fiquei mais
confortável para adentrar no mundo dos contos. Tomei nota que meus educandos já
haviam ouvido falar sobre o assunto e fiquei muito triste, pois poucos deles
souberam citar mais que seis clássicos.
Mais uma vez os
recursos tecnológicos me subsidiaram. Realizei o download de mídias que
apresentavam os clássicos resumidos em cinco minutos e fui apresentando para as
crianças, assim como muito trazendo também as histórias contadas. Na
oportunidade fiz uma ponte entre o referido projeto e outro projeto que toda a
escola está desenvolvendo que chama-se: Resgatando Valores para uma Cultura de
Paz, fazendo uma relação entre os direitos Humanos e o Estatuto da Criança e do
Adolescente, traçando uma série de questões que observamos nos contos e o que
podemos acrescentar a realidade. Algo também bastante oportuno e coincidente
foi a semana do Folclore, que acrescentou ainda mais contos e lendas infantis.
Com os contos
contribui com a formação humana de um ser social em cada educando. A
legitimidade e a certeza de que somos pessoas capazes de conquistarmos uma
final feliz para nossas vidas. Aprender a perceber o outro também foi algo
muito rico, o incentivo ao respeito e a justiça começou a partir da convivência
entre os pares na sala de aula.
E por fim
chegamos ao módulo dedicado às cartas e bilhetes, acredito que tenha sido o
mais curto. Para incentivo usei um resumo do filme Central do Brasil. Levei os
estudantes a refletirem sobre a profissão de Dora (personagem do filme que
trabalha escrevendo cartas), eles/as puderam perceber que durante muito tempo a
carta foi o meio de comunicação mais importante entre as pessoas que moravam
distantes. Apresentei também toda importância da emergente comunicação virtual
que vem abrindo cada vez mais espaço em nossa convivência, os e-mails e
mensagens pelo celular e toda a importância da leitura e da escrita para
possamos fazer parte de todo esse universo. Interagir com os meios de
comunicações mais antigos e também os mais atuais é um pré-requisito para a
efetivação da comunicação de pessoas e grupos em geral.
Nas cartas e
bilhetes pudemos caracterizar tempos diferentes com a mesma marca: a
comunicação escrita. Embora o referido projeto tenha como principal objetivo a
leitura, não podemos desconhecer que o registro escrito é uma marca desde os
primórdios. E que é forma mais legítima de registro de várias civilizações.
Culminância do
Projeto Texto e Variedades
O encerramento
do projeto aconteceu no dia 23 de outubro de 2012. Durante a Mostra Cultural da
escola, na ocasião também aconteceu à escolha da Garota primavera da escola. É
um evento muito animado que integra a escola e a comunidade. Todos os
funcionários e professores preparam a escola para receber os estudantes, os
pais/responsáveis e seus familiares, ex- alunos e toda a comunidade. Organizei
junto com os estudantes um mural com fotografias e histórico de atividades,
cada um recebeu sua pasta contendo todos os gêneros estudados, entregamos as
lembrancinhas e apresentamos uma música escolhida pela turma (Vamos Fugir –
Skank). Ao falar sobre o projeto, alguns pais/responsáveis já sinalizaram estar
cientes do que estava acontecendo, esse reconhecimento foi muito importante
para mim. Falei também que o vídeo com nosso ensaio estava no you tube, que
havia postado e tive todo o apoio dos pais. Foi um momento ímpar, inesquecível.
O reflexo de um processo educativo exitoso para além da sala de aula.
Resultados
Alcançados
Quando iniciei o
projeto Texto de Variedade na sala de aula, sinceramente não esperava a adesão
dos estudantes, mas como Pedagoga sabia que um bom planejamento e o
desenvolvimento de atividades interessantes para os estudantes poderiam
conquistar minha turma. Além do profissionalismo, depositei muita esperança e
muito amor, e hoje estou comemorando os resultados. Ainda tenho estudantes que
não conseguiram alcançar os resultados esperados, mas também tenho casos que em
alguns momentos pensei que não avançariam e como num passo de mágica (na minha
contagem do tempo) deslancharam! Nossa culminância foi planejada pela turma,
eles/as escolheram a música que iriam a apresentar, eles/as prepararam o painel
e eles/as também confeccionaram as lembrancinhas, tudo é claro sob a minha
supervisão. Não sei de eles perceberam o quanto tudo isso foi importante para
mim, talvez não reconheçam as noites que passei pensando e as lágrimas de
felicidade que brotaram em meu rosto quando vi tudo pronto, me sinto
reconhecida pelos textos longos que já podemos ler em sala de aula, ainda com
muita paciência, pelos avanços daqueles que eu sabia que poderiam acompanhar e
principalmente pela superação dos estudantes rotulados de bagunceiros,
preguiçosos e que não querem nada. O que deixei para eles? Um material com
todos a variedade de todos os gêneros trabalhados em sala de aula, meu apoio,
meu incentivo, minha confiança e sem ser poética também deixei as marcas da
minha luta: Uma Educação Pública de Qualidade para todos/as, como um direito
subjetivo.
Referências
BRASIL. Lei Nº 9.089/90, de 13 de julho
de 1990 Lex: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Brasília,
1990.
CAGLIARI,
Luiz
Carlos. Alfabetização e Linguística. – São Paulo: Scipione, 2009.
SOARES, Maria Inês
Bizzoto. Alfabetização Linguística; da teoria à prática/ Maria Inês Bizzoto,
Maria Luisa Aroreira, Amélia Porto – Belo Horizonte: Dimensão, 2010.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura/ Isabel
Solé; trad. Cláudia Schiling – 6 ed. – Porto Alegre: Artmed, 1998
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